Luiz Filipe Tsiipré de Figueiredo,ou Tsiipré, como ele prefere, não poderia ter sido mais feliz ao colocar o título "UMA JORNADA NO TEMPO – Das Visões ao Cachimbo Sagrado" em seu livro de estreia. A obra relata as experiências vivenciadas pelo autor com os povos indígenas do Brasil e da América, quando decidiu dar um giro de 360 graus em sua vida, após receber significativas mensagens por intermédio de quatro visões espirituais. A obra, autobiográfica e filosófica, aborda, ainda, a luta de Tsiipré pela garantia dos direitos dos índios brasileiros. A intenção de sensibilizar e fazer o leitor refletir são facilitadas pelo ritmo da trama e a qualidade do texto de Tsiipré, que escreveu o livro à mão, num trabalho que levou seis anos para se concluído. Como o próprio autor revela, sua maior constatação é de que "nada é por acaso", percepção esta que é a essência de toda a sua história. E ele dá um ótimo relato de quão importante é seguir nossa intuição, já que certas portas só se abrem apenas uma vez na vida.
O livro mostra, acima de tudo, o harmônico encaixe entre passado, presente e futuro, através de visões e reencontros. Sua obra é um esforço para mostrar à sociedade, formada, em sua grande maioria, por pessoas céticas e materialistas, a necessidade de uma vivência espiritual?
O livro mostra, acima de tudo, o harmônico encaixe entre passado, presente e futuro, através de visões e reencontros. Sua obra é um esforço para mostrar à sociedade, formada, em sua grande maioria, por pessoas céticas e materialistas, a necessidade de uma vivência espiritual?
Antes de mais nada, gostaria de ressaltar que esta obra é resultado de um enorme esforço pessoal e da consequente superação de inúmeros obstáculos, finalmente recompensados por Deus, com a sua publicação, e que obteve o amparo e a inspiração da espiritualidade, bem como o apoio de pessoas queridas que constam dos agradecimentos, em razão de uma história verdadeira e que precisava ser contada. Uma narrativa que descreve, a partir dos meus oito anos de idade, a forte influência espiritual relacionada aos índios, mas que desde os quatro anos já se achava presente. Portanto, dentre vários outros temas, a questão da nossa natureza essencial está inserida, não no intuito de se tentar provar ou convencer a ninguém, mas, tão somente, para esclarecer, mediante a descrição dos fatos, a sensibilizar aos que estiverem de corações e mentes abertos. Quanto àqueles que se apresentam céticos e materialistas, tudo é uma questão de tempo, eles apenas se esqueceram, temporariamente, de quem realmente são. Se acham na ilusão do ego. Todavia na eminência de um acidente, da morte do corpo físico, o ego se cala, o ceticismo se questiona e o espírito se manifesta, não tenho dúvidas! É como diz a letra de um samba: “(...)e só se lembram de Deus quando estão no perigo”. Por outro lado, devido à delicada e emergente situação pela qual a humanidade atravessa – inversão de valores, degradação moral, perda de rumo, falta de fé, egoísmos, exibicionismos, violências, guerras, poluições, destruição dos recursos naturais, carência de uma política nacional e mundial que abarque a preservação do meio ambiente com um modelo de desenvolvimento sustentável, aquecimento global, corrupção, etc -,desejo sinceramente que este livro possa contribuir, como já disse, para sensibilizar, fazer refletir a um maior número possível de pessoas, incentivando-as a uma busca interior, o autoconhecimento, uma vez que só poderemos transformar o mundo para melhor, à medida que também nos transformemos. Esta é, com certeza, a verdadeira e fundamental revolução. Não se trata de uma utopia, mas do destino comum de todos nós, a longo prazo, o sentido maior da imortalidade do espírito através das reencarnações.
“O acaso não existe”. Esta é a mensagem mais importante de “UMA JORNADA NO TEMPO – Das Visões ao Cachimbo Sagrado”?
Não diria que seja a mais importante, mas sim a maior constatação! Por trás de tudo existem as influências espirituais que se identificam com os nossos pensamentos e atitudes, o que requer estarmos atentos ao que pensamos e pretendemos realizar, a fim de atrairmos boas companhias... Agora, se é para caracterizar ou definir algo de maior importância em Uma Jornada no Tempo, eu afirmo que se trata de um sentimento implícito, a mola-mestra que sempre me inspirou e norteou minhas realizações nesta vida, e que se chama amor. Meu livro foi escrito com a alma, incontáveis canetas esferográficas e corretoras ao longo de seis anos, e o referido sentimento. Tanto na sua essência quanto na forma, ele passa longe do virtual.
A sua convivência partilhada com os índios no Brasil e nos Estados Unidos é contagiante. Mas, infelizmente, muitas passagens são tristes, por conta da violência e da negligência por parte dos governos. Poderia citar dois fatos marcantes e respectivamente vinculados à história das relações entre os povos índigenas com o Estado Brasileiro e o Norte-Americano?
Existem muitas diferenças em termos de realidades entre os povos indígenas no Brasil e nos Estados Unidos da América. Aliás, essas diferenças são complexas e marcantes em cada um desses países e entre ambos. Invertendo a ordem, e sem qualquer intenção maniqueista, mencionarei duas afirmações históricas e conceituais: “O único índio bom é um índio morto”., de autoria do General George Armstrong Custer,(?-1876) da Sétima Cavalaria dos Estados Unidos. A outra, “Morrer se preciso for, matar nunca.”, do então General Candido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), do Exército Brasileiro. Quanto a primeira, ela nos revela, além do preconceito, do ódio e da violência declarada para com as nações indígenas, uma política de Estado posta em prática pelo Exército Americano, neste caso, no período de colonização da última fronteira, e tendo como consequências os massacres, as epidemias, a quase extinção dos bisões - os búfalos americanos -, enfim, a invasão dos territórios indígenas e a subjugação de seus habitantes. As tribos que se rebelavam pela manutenção do modo livre de ser, eram tidas como hostis ou inimigas, devendo, portanto, serem eliminadas ou perserguidas até a completa rendição. Custer, o autor da primeira frase, fora considerado o maior matador de índios da história do Oeste americano ou, quiçá, do país. A sua vaidade, seu orgulho e sede de poder o guiavam num ambicioso projeto político para conquistar o cargo máximo de presidente da América. No entanto, em 25 de julho de 1876, no vale do “Little Big Horn”, em Montana suas pretensões foram definitivamente interrompidas. Confiante que se achava em sua estratégia e no elemento surpresa, não poderia, sequer, imaginar que o feitiço viraria contra o feiticeiro. Liderados pelo grande chefe Tatanka Iyotanka, ou Touro Sentado, dos Hunkpapa-Sioux, por Galha e pelo carismático Cavalo Doido, dos Oglala-Sioux, cerca de 4000 guerreiros o esperavam. Touro Sentado tivera uma visão espiritual com os soldados se aproximando, e conseguira, em tempo hábil, promover a poderosa aliança. Naquele episódio, Cabelos Compridos Custer, como era chamado pelos índios, e todo o Sétimo Regimento de cavalaria, tombaram. Por outro lado, o lema de Rondon, diametralmente oposto ao de Custer, comprovou-se na prática, quando fora alvejado no peito por uma flecha Nambiquária, não permitindo, porém, que seus homens revidassem. Contudo a flechada não o ferira, pois se cravara tão somente na alça de couro, ou bandoleira, que sustentava sua espingarda às costas. Rondon enfatizava e justificava a reação dos índios como legítima, na defesa de suas terras, e dizia: “Nós é que estamos invadindo!”. E foi a sensibilidade, a postura humanística e a visão científica de Candido Rondon que o conduziram como fundador do Serviço de Proteção aos Índios, extinto cinqüenta e sete anos depois, em 1967, por motivos de corrupção e negligência aos diversos crimes cometidos contra os seus tutelados, uma sucessão de escândalos numa conduta traidora aos ideais e ao exemplo de vida do seu fundador. Com o fim do SPI foi criada a Funai - Fundação Nacional do Índio-, que permanece até os dias de hoje, encontrando-se abordada em alguns capítulos do livro, nas décadas de 1970 e 1980.
A sua vida é marcada por inúmeras mudanças bruscas de rumo e muitos deslocamentos. As pessoas seriam mais felizes se permitissem seguir mais seus instintos?
Acho que instinto está mais ligado ao aspecto da sobrevivência, aquele impulso que nós temos de lutar ou correr. No caso, prefiro utilizar o termo intuição, e que, por sinal, encontra-se em destaque no livro, em virtude da enorme importância que ela representa e exerce em nossas vidas, desde que nos coloquemos abertos ou receptivos aos seus influxos. Realmente, quando seguimos as intuições, tropeçamos menos nos pedregulhos do caminho da existência. Mas para isso devemos nos desapegar de tudo aquilo que nos faz prisioneiros do querer, do ter, ou seja: do ego. Precisamos muito mais vivenciar o ser, que é o que na realidade somos. O resto, quando nos domina, é pura aparência e ilusão. E a partir da intuição podemos conhecer os segredos da felicidade que se revelam nas coisas simples, no necessário para que possamos estar no mundo com dignidade e em função do bem, da natureza e do próximo. Não conheço nenhuma pessoa egoísta que seja, verdadeiramente, feliz. É como dizia a madre Teresa de Calcutá: “O que traz felicidade é ser útil aos demais”.
Apesar de você deixar claro que tem afeição a todas as tribos indígenas, dá para perceber uma ligeira preferência com os Xavante. O que determinou essa maior identificação?
Quando estive pela primeira vez com os Xavante, no ano de 1974, em Brasília, senti uma forte emoção, proveniente de uma profunda identificação com os mesmos, mas que não poderia explicar. No ano seguinte, já em Cuiabá, na então 5° Delegacia Regional da Funai, os laços foram se estreitando com periódicas viagens de trabalho às aldeias. E como a recíproca era verdadeira, acabei indo trabalhar e conviver na antiga Área Indígena Couto de Magalhães, do líder Joãosinho Terriyacé, pelo Plano de Desenvolvimento Sócio-cultural da Nação Xavante, ou projeto Xavante, há muito tempo determinado. Por lá vivenciei profundas experiências, tenso sido adotado por Terriyacé e sua esposa, Rita Pedzár´i, os quais me inseriram no cerne de sua cultura, de seu povo, sem fronteiras ou barreiras. Somente muitos anos depois, quando fui viver nos EUA-Arizona, estando com os Oglala-Sioux de Pine Ridge, em Dakota do Sul, e após a regressão de memória pela qual passei, em Sedona, foi que me dei conta da imediata identificação com os Xavante. É que ambos esses povos apresentam muitas semelhanças fisionômicas e de personalidade, destacando-se a altivez e a bravura. Lembranças inconscientes do passado...
Depois de tanta intensidade, você ainda aguarda “surpresas” do destino?
Seguramente! E o destino estará sempre a nos surpreender, quando navegamos com fé, amor e trabalho no oceano da vida. E a vida não cessa jamais. O corpo e as suas funções orgânicas se esgotarão um dia, mas o espírito, seu habitante temporário e imortal, continuará em seu processo evolutivo e individual numa outra dimensão, até que lhe seja necessário o retorno e a experiência em um novo corpo, dentro de sua trajetória evolutiva.
Você já plantou uma árvore, teve uma filha e, finalmente, escreveu um livro. Falta alguma outra missão para Luiz Filipe Tsiipré?
Desde 2006 estou planejando desenvolver um projeto na área de saúde – pela visão oriental – e educação ambiental, na região do médio Araguaia. Já estive por lá apresentando a proposta à comunidade, que, aliás, foi muito bem aceita, e se denomina Ação Empreendedora Renascer no Araguaia (AEMPRA), abrigando o Projeto Ribeirinhos no Círculo da Vida. A proposta é abrangente e contemplará os ribeirinhos tradicionais e também os índios Karajá, originários daquela região. Trata-se de um empreendimento focado na replicabilidade e sustentabilidade das ações, que terão início na pequena cidade de São Félix do Araguaia, no Estado do Mato Grosso, mas que necessita contar com recursos financeiros e o apoio de parcerias para a sua implementação. E neste sentido, desejo que o presente livro, abrangendo a minha história de vida, sobretudo como empreendedor social, possa vir a ser um importante veículo de divulgação do Projeto Ribeirinhos no Círculo da Vida, e comentado no capítulo 24, - COMPREENDENDO A JORNADA E PROJETANDO O FUTURO -, abrindo portas para o seu desabrochar. E aos possíveis interessados em apoiar este projeto, deixo-lhes o meu e-mail e o número do meu celular no final do livro.
A sua experiência com as culturas indígenas e as filosofias orientais, seja na medicina ou através da meditação, mudou, de forma profunda, seus hábitos, principalmente no que diz respeito à alimentação. Adianta cuidar da alma sem dar atenção ao corpo?
Ambos necessitam seguir em harmonia. Afinal de contas, o corpo não é a morada da alma? Devemos investir, conscientemente, no ser integral.
Você acha que qualquer pessoa pode ter visões claras como as suas, com mensagens tão diretas? O que determina essa sensibilidade?
Antes de tudo, creio que, por alguma razão, já deveria haver um propósito estabelecido pela espiritualidade superior para que eu viesse a tomar conhecimento das situações e passagens que expus no livro, e que aconteceram de maneira totalmente espontânea. Agora, se eu não estivesse “antenado”, os sinais passariam desapercebidos. Por outro lado, as influências espirituais indígenas que eu vivenciava desde a mais tenra idade, mexiam muito comigo, sob vários aspectos, principalmente nos relacionamentos sociais. Bem lá no fundo, eu me sentia um estrangeiro com saudades da terra natal... Daí, por conta própria, fui em busca da verdade espiritual em algumas seitas e religiões. Queria entender os mistérios da existência. Como eu disse no texto introdutório: “Percorri diferentes templos, mas hoje me considero uma pessoa que adquiriu a religiosidade como um princípio da própria existência, independentemente de qualquer religião”. E ainda bem que foi por aí, e não pelos descaminhos da vida.... Graças a Deus e às intuições, que, na verdade, são as mensagens que recebemos por inspiração do nosso anjo guardião. Todos nós somos portadores de talentos e sensibilidades que no momento certo se revelam. Só precisamos é saber disso e fazer a nossa parte. A meditação pode ser um bom começo.
A experiência de escrever o livro te surpreendeu ao ponto de pensar em repetir a dose?
O que mais me surpreendeu com a experiência de escrever este livro ao longo desses seis anos, foi o incrível acesso aos bastidores ocultos da memória, que emergia como bolhas de um respirador subaquático na superfície do lago. Realmente, no exercício constante da escrita, recordei-me de situações antigas e significantes que já não se achavam presentes nas lembranças do cotidiano. E no tocante a repetir a dose, na realidade, até já comecei, mas ainda bem no início. Trata-se de uma história também verdadeira, uma viagem de canoa, a remo, por 557 km do Rio das Mortes, o rio dos Xavante, no Mato Grosso, envolvendo idealismo, aventura, questão ambiental e ética. Vai se chamar: “MORTES QUE TE QUERO VIVO – Uma expedição rio abaixo”. Tem umas pinceladas no capítulo 24, do atual. Aguardem!
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